Grande parte das pessoas já passaram por experiências que
envolvem a morte, seja de entes
queridos ou de estar prestes a ultrapassar a linha da vida. Em primeiro
momento, as lembranças que vem a tona são bastante negativas, mas o que grande
parte não vê é um lado que eu poderia tranquilamente chamar de belo que a morte possui. Seu lado como professora,
como ensinamento. Se o ser humano é formado por experiências ao longo da vida,
o que melhor do que a morte para nos
tornar completos – ou pelo menos bem próximos a isso - quando chegarmos ao fim?
Acredito que seja minimamente necessário um sujeito possuir pelo menos uma
referência do que é esta grandiosidade.
A humanidade – seja por instinto ou
dependência – estabeleceu uma ligação entre a morte e o “depois”, o “pós” – a saudade, a falta, o sentimento que
fica, a pessoa que vai – mas poucos se encantam ou sequer chegam a notar o
“durante”, que pra mim é a parte mais rica dessa experiência.
Após certas dificuldades patológicas e alguns dias de internação, meu vô faleceu no final da tarde de uma
quinta-feira e foi nesta ocasião que pude perceber como morte e o ser humano estão interligados no espiritual, no fisiológico e no psicológico. Eu estava no apartamento dos meus tios na capital paulista quando
recebemos o telefonema e a partir de então pude presenciar um dominó de
comportamentos: como minha
família reagiu naquele momento e a diferença discrepante de
pessoa pra pessoa.
Um, ficou perdido em seus pensamentos por completo,
transbordando conflitos, vagando pela casa sem sequer conseguir pensar aonde
deveria colocar o pé para dar o próximo passo; a mente inteiramente bloqueada e
impedida. Outro segundo, escondia
debaixo de uma carapaça momentânea suas lamúrias e tentava transpassar
responsabilidade. Outro terceiro, era
uma montanha russa das mais variadas emoções – raiva, perdão, tristeza,
felicidade, confusão – que não aparentava fim, muito menos aceitação. Outro quarto, que sempre deixou o silêncio
falar por ele em várias situações, se manteve o mesmo, porém seu silêncio
falava tristeza, aquela das mais profundas e doloridas. Outro quinto, o presente, o “único” útil, o
perseguido – no bom sentido, contudo – dessa vez não queria abrir mão da
perseguição. Outro sexto, querido,
almejado, forte e racional, desistiu de seu posto e colocou-se ao lado do que partiu
e deu a si mesmo o direito de chorar, de sentir falta. Outro sétimo, caótico, expressivo e quase
imaleável, viu o caos como a melhor opinião para fuga, porém, seus caos proporcionava
ritmo aos outros. Outro oitavo, que
se achava racional demais para tudo aquilo, mostrou suas lacunas no final das contas. Outro nono, protegido por
sua inocência e um mundo imaginário-fantástico próprio, se comporta distintamente
e se torna único, porém essencial. Outro décimo,
talvez o mais importante, uma metáfora de rainha que agora conheceu o mundo
verossímil, distante do seu companheiro.
De forma bastante resumida, não linear e um pouco
metafórica, foi desta maneira - ao meu ver - que meus familiares se comportaram e é exatamente isto a experiência estética: a possibilidade
que tive de observar as pessoas a minha volta e
o quão valioso isso se tornou, ampliando minhas referências, noções e me
deixando ainda mais intrigado sobre o quão espetacular é o comportamento humano perante
grandezas desconhecidas.
Por
Gabriel Helú
Nenhum comentário:
Postar um comentário